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O
anúncio papal que não aconteceu
(...)
“A conversão ecumênica reforçou e promoveu um espírito de diálogo, de respeito,
e de busca conjunta da verdade. Apesar do pleno conhecimento das dificuldades
ainda existentes, proponho hoje alguns pontos para a vida da Igreja Católica,
tendo em vista a tão desejada unidade dos cristãos:
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1 – Já
que o trono, a tiara e os títulos pomposos eram sintomas de patologias profundas
e causa de irritação entre Igrejas irmãs, proíbo energicamente que se chame o
Papa com títulos como “Sua Santidade”. E nem sequer o título de Santo Padre me
agrada, pois Jesus, na Sua Grande oração pela Unidade, chama Seu Pai de “Pai
Santo” (Jo, 17, 11). Esperamos que, no futuro, jamais alguém se permita chamá-lo
“Santíssimo”, ou “Beatíssimo”.
2 – Não
existirão mais os chamados “prelados de honra de Sua Santidade”. Os cardeais da
Igreja Romana não se vestirão de púrpura “como fazem os ricos”. No Vaticano não
mais títulos como “Eminência” ou “Excelência”. Somos todos irmãos em torno de
Cristo, humilde servo de Deus, que se fez homem para a nossa salvação.
3 – Os
diversos diálogos interconfessionais das últimas décadas produziram resultados
surpreendentes. Ouvindo juntos a palavra de Deus, conseguimos remover muitos
obstáculos sendo, por isso, chegada a hora de pôr fim a todas as consequências
possíveis e dar passos decisivos, rumo à unidade e à reconciliação, numa fecunda
diversidade.
A prática ecumênica
deverá avançar para a unidade dos cristãos e
não-cristãos
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4 – Como
sinal desse renovado fervor, o “Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos”
será elevado ao nível dos mais importantes Dicastérios Romanos, melhor ainda,
tornar-se-á Congregação, com a específica competência de criar e animar
estruturas capazes de favorecer o processo e o acolhimento dos resultados
provenientes dos diálogos interconfessionais, em estreita colaboração com as
Conferências Episcopais e as Faculdades Teológicas de todo o mundo
.
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5 – 0
Papa propõe-se a fazer todo o possível para tornar viva e operante a
Colegialidade em todos os níveis. Para recuperar as estruturas sinodais do
primeiro milênio, muito teremos a aprender das Igrejas irmãs que conservaram e
desenvolveram com muita eficácia aquelas estruturas.
6 –
Tendo em vista a função ecumênica do Bispo de Roma, todas as Conferências
Episcopais e todos os Patriarcados participarão da eleição dele. As modalidades
exatas serão determinadas pelo próximo Sínodo dos Bispos.
7 – 0
mesmo Sínodo decidirá sobre a função e o futuro do “corpo diplomático”. Até
mesmo o nome não é mais aceitável. As Igrejas não podem definir-se como
instituição diplomática. Bem ao contrário, precisamos é de organismos
completamente diferentes, que sirvam para a missão da Igreja na promoção da Paz
e da Justiça.
Em
relação a tudo aquilo que se refere à ligação e à comunicação contínua entre o
Bispo de Roma e as Igrejas locais, serão encontrados modelos semelhantes aos do
primeiro milênio.
8 – Uma
ponderada interpretação teológica do primado do Papa, feita à luz da Palavra de
Deus e dos documentos dos Concílios, demonstrou que o magistério e o governo do
Papa só estão plenamente integrados no interior da Igreja.
Motivo
pelo qual o Papa não é um mestre de fé de fora para dentro ou de cima para
baixo. Ele faz parte dos discípulos reunidos em torno de Cristo, único Mestre, e
faz parte tanto da “Igreja Docente” quanto da “Igreja
Discente”.
No
exercício de sua atividade pastoral para a Igreja Universal, ele é obrigado a
seguir o exemplo do humilde Servo de Deus, Jesus Cristo. Por isso, ele observará
escrupulosamente o principio da subsidiariedade.
9 – 0
Papa tem o direito de saber o que se crê na Igreja, com sinceridade de
consciência e com a liberdade dos filhos de Deus. Não poderá exercer o seu
magistério e ministério da unidade se não existir um amplo espaço de diálogo
franco e sincero dentro da Igreja.
É por
isso que, certo de poder contar com consenso dos irmãos Bispos, faço abolir,
com efeito imediato, o que, no Código de Direito Canônico, está prescrito sobre
punibilidade do não assentimento em relação aos documentos não infalíveis do
Papa.
(Cân.
1371 — Seja punido com justa pena: 1) quem, fora do caso previsto no cân. 1364 §
1, ensinar uma doutrina condenada pelo Romano Pontífice ou pelo Concílio
Ecuménico, ou rejeitar com pertinácia a doutrina referida no cân. 750 § 2 ou no
cân. 752, e, admoestado pela Sé Apostólica ou pelo Ordinário, não se
retrata)
10 –
Além da comum profissão de fé e dos votos ou promessas batismais, não se farão
mais, na Igreja Católica, juramentos particulares de fidelidade e lealdade.
Basta seguir a palavra firme de Jesus: “Seja o vosso falar: sim, sim; não, não.
Tudo o que disso passa, procede do maligno” (Mt. 5,37).
Já que
vivemos da contínua antecipação de confiança que nos é concedida por Deus,
também nós faremos todo o possível para criar uma atmosfera de confiança
recíproca. Por este motivo, estão abolidos todos os instrumentos de controle e
se criará um clima de confiança uns nos outros.
11 –
Todos os problemas polêmicos, como, por exemplo, a função da mulher na Igreja, a
participação das mulheres nos processos decisórios de toda a Igreja e uma
eventual ordenação das mulheres para o sacerdócio ministerial, serão discutidos
no diálogo ecumênico e dentro da Igreja com franqueza, respeito e paciência. E a
decisão final terá caráter estritamente colegial.
12 – A
Cristandade inteira, todos os discípulos de Cristo, juntos, são chamados a ser
luz do mundo, sacramento de paz, de justiça, de salvação e de cura. Por isso,
buscaremos um diálogo respeitoso com todas as religiões não-cristãs, mais ainda,
com todos os homens de boa vontade.
Perscrutando os
sinais dos tempos, daremos especial atenção ao evangelho da paz e ao caminho da
não-violência, a exemplo de Jesus, aproveitando também, com muita alegria, tudo
o que a graça de Deus operou, em relação a isto, entre as religiões
não-cristãs.
(...)”
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