Guerras
silenciosas

15/10/2013
Aproximadamente
2 bilhões de pessoas no mundo carecem das vitaminas e minerais essenciais para
gozar de boa saúde. A fome e a desnutrição matam progressivamente mais pessoas a
cada ano do que a Aids, a malária e a tuberculose juntas. Os dados mundiais
continuam sendo dramáticos: 870 milhões de pessoas passam fome; as mulheres, que
constituem um pouco mais da metade da população mundial, representam mais de 60%
das pessoas com fome; a desnutrição aguda mata a cada dia 10 mil crianças.
Esse
último dado, por si mesmo, é escandaloso e seria suficiente argumento para
transformar desde a raiz o atual sistema alimentar, cuja iniquidade gera mais
mortes do que qualquer uma das guerras atuais. Ou, talvez, estamos ante outro
tipo de guerra, a guerra silenciosa.
Eduardo
Galeano, em seu livro ‘Los hijos de los días’ (Os filhos dos dias), fala das
guerras caladas. Denuncia que a pobreza, com todas as suas sequelas, não estoura
como bombas, nem soa como os tiros; porém, da mesma forma, produz morte. E, com
agudeza crítica, ressalta que "dos pobres, sabemos tudo: em que não trabalham, o
que não comem, quanto não pesam, quanto não medem, o que não possuem, o que não
pensam, que não votam, em que não creem... Somente nos falta saber porque os
pobres são pobres. Será porque sua nudez nos veste e sua fome nos dá de
comer?”.
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Na
América Latina, a brecha entre ricos e pobres aumentou: 20% da população mais
rica têm uma média de ingresso per capita quase 20 vezes superior ao ingresso
dos 20% mais pobres. O fato de que 47 milhões de pessoas sofram fome na região
se explica em boa medida por essa concentração da riqueza tão desigual quanto
injusta.
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Por
outro lado, afirma-se que para salvar aos que padecem fome no mundo são
necessários uns 30 bilhões de dólares anuais. Uma cifra pequena se a compararmos
com os gastos militares dos EUA em 2012: 682 bilhões de dólares.
Está
claro que no mundo se considera mais importante a segurança militar do que a
segurança alimentar, os gastos para a guerra do que os gastos para a vida. Outra
cifra escandalosa é representada pelo 1,3 bilhões de toneladas de alimentos que,
a cada ano, são jogadas no lixo, em vez de ser utilizadas para reduzir a fome e
a má nutrição.
Esses
dados sobre a fome, a má nutrição, os gastos militares, a concentração de
riqueza e o desperdício de alimentos remetem, direta ou indiretamente, à morte.
Nesse contexto, resultam proféticas e cheias de esperanças as palavras de Jesus
de Nazaré: “Ditosos vocês que agora têm fome, porque serão saciados... Porém, ai
de vocês, os que agora estão saciados, porque passarão fome”.
Aqui,
nos deparamos com um primeiro passo para carregar com a realidade dos que passam
fome e má nutrição: seu clamor foi escutado e foram tirados de sua inexistência,
tornando central sua situação; condições necessárias para decidir-se a trabalhar
pela justiça e pôr fim às guerras silenciosas do presente.
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