“Os
desafios pastorais sobre a família no contexto da
evangelização”.
Eis a
íntegra da mensagem:
“Nós,
Padres Sinodais reunidos em Roma junto ao Santo Padre na Assembleia Geral
Extraordinária do Sínodo dos Bispos, nos dirigimos a todas as famílias dos
diversos continentes e em particular àquelas que seguem Cristo, Caminho, Verdade
e Vida.
Manifestamos
a nossa admiração e gratidão pelo testemunho cotidiano que vocês oferecem a nós
e ao mundo com a vossa fidelidade, a vossa fé, esperança e
amor.
Também
nós, pastores da Igreja, nascemos e crescemos em uma família com as mais
diversas histórias e acontecimentos. Como sacerdotes e bispos encontramos e
vivemos ao lado de famílias que nos narraram em palavras e nos mostraram em atos
uma longa série de esplendores mas também de cansaços.
A
própria preparação desta assembleia sinodal, a partir das respostas ao
questionário enviado às Igrejas de todo o mundo, nos permitiu escutar a voz de
tantas experiências familiares. O
nosso diálogo nos dias do Sínodo nos enriqueceu reciprocamente, ajudando-nos a
olhar toda a realidade viva e complexa em que as famílias
vivem.
A
vocês apresentamos as palavras de Cristo: “Eis que estou à porta e bato. Se
alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele
e ele comigo” (Ap 3,20).
Como
costumava fazer durante os seus percursos ao longo das estradas da Terra santa,
entrando nas casas dos povoados, Jesus continua a passar também hoje pelos
caminhos das nossas cidades.
Nas
vossas casas se experimentam luzes e sombras, desafios exaltantes, mas às vezes
também provas dramáticas. A escuridão se faz ainda mais densa até se tornar
trevas, quando se insinua no coração mesmo da família o mal e o
pecado.
Existe,
antes de tudo, o grande desafio da fidelidade no amor conjugal, enfraquecimento
da fé e dos valores, individualismo, empobrecimento das relações, stress de um
frenesi que ignora a reflexão, marcam também a vida
familiar.
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Se
assiste, assim, a não poucas crises matrimoniais, enfrentadas frequentemente em
modo apressado e sem a coragem da paciência, da verificação, do perdão
recíproco, da reconciliação e também do sacrifício.
Os
fracassos dão, assim, origem a novas relações, novos casais, novas uniões e
novos matrimônios, criando situações familiares complexas e problemáticas para a
escolha cristã.
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Entre
estes desafios queremos evocar também o cansaço da própria existência. Pensemos
no sofrimento que pode aparecer em um filho portador de deficiência, em uma
doença grave, na degeneração neurológica da velhice, na morte de uma pessoa
querida.
É
admirável a fidelidade generosa de muitas famílias que vivem estas provações com
coragem, fé e amor, considerando-as não como alguma coisa que é arrancada ou
infligida, mas como alguma coisa que é doada a eles e que eles doam, vendo
Cristo sofredor naquelas carnes doentes.
Pensemos
nas dificuldades econômicas causadas por sistemas perversos, pelo “fetichismo do
dinheiro e pela ditadura de uma economia sem rosto e sem objetivo
verdadeiramente humano”
(Evangelii gaudium 55), que humilha a dignidade das
pessoas.
Pensemos
no pai ou na mãe desempregados, impotentes diante das necessidades também
primárias de suas famílias, e nos jovens que se encontram diante de dias vazios
e sem expectativas, e que podem tornar-se presa dos desvios na droga e na
criminalidade.
Pensemos
também, na multidão das famílias pobres, naquelas que se agarram em um barco
para atingir uma meta de sobrevivência, nas famílias refugiadas que sem
esperança migram nos desertos, naquelas perseguidas simplesmente pela sua fé e
pelos seus valores espirituais e humanos, naquelas atingidas pela brutalidade
das guerras e das opressões.
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Pensemos
também nas mulheres que sofrem violência e são submetidas à exploração, no
tráfico de pessoas, nas crianças e jovens vítimas de abusos até mesmo por parte
daqueles que deveriam protegê-las e fazê-las crescer na confiança e nos membros
de tantas famílias humilhadas e em dificuldade.
“A
cultura do bem-estar nos anestesia e (…) todas estas vidas decepadas pela falta
de possibilidades nos parecem um mero espetáculo que não nos perturba de nenhum
modo” (Evangelii
gaudium, 54). Fazemos apelo aos governos e às organizações internacionais para
promoverem os direitos da família para o bem comum.
Cristo
quis que a sua igreja fosse uma casa com a porta sempre aberta na acolhida, sem
excluir ninguém. Somos por isso agradecidos aos pastores, fiéis e comunidades
prontos a acompanhar e a assumir as dilacerações interiores e sociais dos casais
e das famílias.
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