Os
“Anos de Chumbo” e a Comissão
Nacional da Verdade
(VI)
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A
Comissão investigará a morte de Rubem Paiva. Antecipa e confirma seu assassinato
pela repressão policial no DOI-Codi
Durante
mais de quatro décadas, a psicóloga Maria Beatriz Paiva Keller, de 52
anos, não teve qualquer notícia sobre a circunstância do desaparecimento do pai,
o ex-deputado federal, engenheiro e empresário paulista Rubens Paiva.
Nesta terça-feira, 27/11, ela teve acesso aos primeiros documentos que ajudam a
elucidar o mistério e lançam luzes sobre um dos episódios sombrios da
repressão.
Os
papéis que Maria Beatriz recebeu, em solenidade no Palácio Piratini, na Capital,
registram a entrada de seu pai no Departamento de Operações e Informações -
Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), na rua Barão de Mesquita,
no Rio, em 1971, e um termo de
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"cautela",
datado de 4 de fevereiro do mesmo ano, descrevendo documentos apreendidos no
veículo de Paiva. Até então, havia apenas relatos verbais sobre o ingresso de
Rubens Paiva no DOI-Codi e as circunstâncias em que ele teria permanecido no
quartel-símbolo da repressão.
Os
documentos vieram à tona somente agora porque eram mantidos pelo coronel Julio
Miguel Molinas Dias, ex-comandante do abominável DOI-Codi. Molinas Dias foi
morto neste 1º de novembro, em Porto Alegre, em circunstâncias ainda não
esclarecidas.
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A
poesia de Rubem Alves
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Contei meus
anos e descobri
Que terei menos tempo para viver do que já tive até agora... Tenho muito mais passado do que futuro... Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de jabuticabas... As primeiras, ele chupou displicentemente... Mas, percebendo que faltam poucas, rói o caroço... Já não tenho tempo para lidar com mediocridades... Inquieto-me com os invejosos tentando destruir quem eles admiram. Cobiçando seus lugares, talento e sorte... Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas As pessoas não debatem conteúdo, apenas rótulos... Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos... Quero a essência... Minha alma tem pressa... Sem muitas jabuticabas na bacia Quero viver ao lado de gente humana... muito humana... Que não foge de sua mortalidade. Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade... |
Rubem Alves
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O que as
pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranquila. Em
silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam: "Se eu fosse você".
A gente ama
não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A fala só é bonita
quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta. É na escuta que o amor
começa. E é na não-escuta que ele termina. Não aprendi isso nos livros. Aprendi
prestando atenção.
As palavras
só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor.
Aprendemos palavras para melhorar os olhos. Há muitas pessoas de visão perfeita que nada veem... O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido! Eu quero desaprender para aprender de novo. Raspar as tintas com que me pintaram. Desencaixotar emoções, recuperar sentidos.
Amor é isto:
a dialética entre a alegria do encontro e a dor da separação. De alguma forma a
gota de chuva aparecerá de novo, o vento permitirá que velejemos de novo, mar
afora. Morte e ressurreição. Na dialética do amor, a própria dialética do
divino. Quem não pode suportar a dor da separação, não está preparado para o
amor. Porque o amor é algo que não se tem nunca. É evento de graça.
Aparece quando quer, e só nos resta ficar à espera. E quando ele volta, a alegria volta com ele. E sentimos então que valeu a pena suportar a dor da ausência, pela alegria do reencontro. |
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