O horizonte
da vida e da morte
Jorge La Rosa
Professor universitário, doutor em
Psicologia.
E-mail: larosa1134@gmail.com
Entender e ser coerente com o enunciado
paulino significa aceitação humilde e grandiosa da condição humana que encontra
no Criador o significado último do peregrinar terrestre. Isto é salvação, o
encontro do sentido originário da existência, o que lhe dá suporte, e, ao mesmo
tempo, a plenifica porque ontologicamente somos destinados ao Absoluto, e
somente Ele sacia a fome de felicidade. Não há outra fonte, nem substituto, nem
paliativo. Ou Deus ou a danação; neste sentido Sartre tem razão, no horizonte
sem Deus “O homem é uma paixão inútil”, e “A vida não tem sentido”, ele vive de
teimoso, como Sísifo, num trabalho insano que jamais conclui sua tarefa nem frui
o resultado de seus esforços: ele é estruturalmente frustrado e sua vida não tem
arrumação; resta-lhe danação. Sartre é coerente na sua filosofia sem Deus.
Os que vivem no horizonte de Deus e lhe abrem
o coração, experimentam um profundo sentido em tudo o que fazem e dizem,
e ainda que não estejam infensos ao sofrimento, cada um tem sua quota, saboreiam
o gosto do viver; em uma jornada que se sabe finita, mas que culmina no encontro
com o Infinito.
Outras formas
Queremos ser Deus quando destruímos a vida
humana pelas guerras, como se dela senhor fôssemos, ou a destruímos pelo modo
perverso como se organiza a sociedade e a economia que lhe dá sustentação:
novecentos milhões de pessoas passam fome no mundo e dormimos tranquilos, como
se não nos dissesse respeito. Não somos o Senhor da vida, mas os guardiões que
precisam velar pela sua conservação e desenvolvimento, onde quer que se
encontre. Se não nos sentimos responsáveis pela fome no mundo, alguma conversão
precisa ocorrer em nosso ser, humano e cristão. Se formos profundamente humanos,
seremos radicalmente cristãos.
Aceitação da finitude é aceitar que a vida
tem um começo e tem um fim. Não temos existência imortal, e por mais que
prolonguemos a vida, o que é bom, ela terá o seu termo. Não podemos prorrogar
indefinidamente a realização de certas tarefas e a busca de certos objetivos,
como nossa permanente conversão e o crescimento no amor a Deus e ao próximo, e o
que isso implica. Aceitar a finitude significa, ainda, que precisamos nos
organizar em termos de prioridades, o mais importante deve vir primeiro e ocupar
o espaço mais nobre do viver, e ser também a busca constante do existir.
Ser é mais importante do que ter, mas não se
pode ser sem se ter o necessário e suficiente para uma vida satisfatória e
digna. Sociedade com uma melhor distribuição dos bens será meta constante do
cristão que não restringe sua fé a práticas piedosas, mas a insere no cotidiano,
nas relações com outras pessoas, instituições e Estado. O Senhor já advertira:
“Daí a Deus o que é de Deus e a César o que é de César”. Sociedade calcada na
busca desordenada do ter propicia o acúmulo de bens nas mãos de minoria, não é
feliz nem cristã, porque contraria o projeto do Criador que destinou os bens da
terra a todos os seres humanos e não apenas a um grupo (Paulo VI, Populorum
Progressio, nº 22). Sempre que o ser humano contraria o projeto divino, constrói
sociedade com patologias variadas e infelicidades multiplicadas. Lição a
aprender.
Prioridades
A questão das prioridades é fundamental. Não
podemos gastar muito tempo com o secundário e acidental e descuidarmo-nos do
essencial; não podemos nos perder nos meios e esquecer os fins; o dinheiro é
meio para viver, não é o fim da existência; jamais se ouviu dizer que o
acumulado em uma vida acompanhe o esquife do falecido na sua viagem para a
eternidade, como passaporte para o céu; a busca do dinheiro não pode comprometer
o convívio educativo com os filhos e a família, o convívio fraternal com os
amigos, a visita e o conforto que precisamos levar aos que sofrem e aos
desamparados. Não podemos gastar todo o tempo disponível para ganhar dinheiro;
algo estaria errado; muita gente ao derredor e nós mesmos seríamos infelizes.
A distinção entre meios e fins é uma longa
meditação que pode nos orientar no decorrer da existência e que serve também
para darmos a ela uma direção e sentido. O pobrezinho de Assis renunciou aos
bens da família e se desprendeu de muita coisa para ter o coração livre e aberto
para o amor; que propiciou uma guinada na História e ajudou a dar sustentação a
uma Igreja combalida e necessitada de santo.
Os meios
não são os fins. A morte não é fim; é meio para encontrarmos o Senhor da Vida e
saciar a sede de felicidade que albergamos no fundo do
ser.
EDITORIAL
O diretor de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal, Oslain
Santana, terceiro na hierarquia da instituição e tradicionalmente avesso a
declarações públicas, afirma que pelo menos metade dos casos de corrupção tem
relação com financiamento de campanhas eleitorais.
Ele coordenou todas as grandes operações de combate contra fraudes em
licitações, superfaturamento de contratos e contratação de ONGs de fachada desde
2011.
“Cinquenta por cento das operações da Polícia Federal contra
corrupção têm como pano de fundo financiamento de campanha eleitoral. Quando
você investiga um caso de corrupção, desvio de dinheiro público, vai ver lá na
frente que tinha um viés para financiar campanha política. Então, se resolvessem
fazer uma reforma política, diminuiria muito o crime de corrupção. Isso é fato”,
revela.
Normalmente, numa investigação, é um prefeito desviando dinheiro,
parte do dinheiro vai para seus interesses
pessoais e parte do montante, para financiar a campanha. “Essa é a realidade
hoje. Um prefeito, um deputado, um governador e por aí vai.
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Não dá para precisar em números, mas é fato. É a sensação que temos
nas várias investigações em que trabalhamos. E são todos os partidos. Não é
privilégio desse ou daquele. Todos. As várias investigações da PF e do
Ministério Público comprovam o que a gente está comentando
agora.”
Santana afirma que “tem que haver uma reforma política. O modelo
atual de financiamento de campanha, se você não mudar, vai acontecendo esse tipo
de crime: vão continuar desviando dinheiro público para esse
financiamento.”
Não pode negar-se a trabalhar em favor dos interesses particulares
dessas empresas, grupos econômicos, até de contraventores e donos de empresas de
ônibus durante o seu mandato, mesmo porque quatro anos depois vai precisar de
novo de doações para reeleger-se. Esse é o nó a desatar em todos os níveis da
representação política, federal, estadual e municipal.
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Vaticano contra privilégiosPapa ordena saída de ‘bispo de luxo’ de diocese alemã
Foto aérea
mostra a Catedral de Limburgo (à direita) e a residência episcopal (à
esquerda)
O Papa
Francisco ordenou que o bispo alemão Franz-Peter Tebartz-van Elst, conhecido
como “bispo de luxo” por gastar cerca de 35 milhões de euros (R$ 103 milhões) em
uma residência, deixe a diocese em que trabalha por um período indeterminado,
informou o Vaticano nesta quarta-feira.
Em um
comunicado, a Santa Sé disse que Tebartz-van Elst “não podia mais exercer seu
ministério episcopal” e anunciou que o recém- nomeado vigário-geral de Limberg,
Monsenhor Wolfgang Roesch iria administrar a diocese durante o afastamento do
bispo.
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A
decisão, que representa quase uma demissão, foi tomada contra o bispo de
Limburgo dois dias após um encontro dele com o Papa para discutir o escândalo na
Igreja da Alemanha, num momento em que o Francisco busca ressaltar a importância
da humildade e de servir aos pobres.
A
medida foi considerada incomum por observadores, por deixar Elst numa espécie de
limbo, um meio caminho entre a suspensão e a expulsão. Aparentemente é uma forma
de o Vaticano e líderes da Igreja Católica na Alemanha ganharem tempo para lidar
com a situação. Elst tem 53 anos e somente poderia se aposentar daqui a 22 anos.
Uma
alternativa seria sua transferência e chegou a ser comentado na Alemanha que ele
poderia ir para a África.
O caso
revoltou os católicos alemães, num país em que Lutero promoveu uma reforma cinco
séculos atrás após criticar abusos da Igreja, e levou o bispo a enfrentar uma
forte pressão para deixar o cargo.
Os gastos com a construção da residência custaram um valor
bem acima do orçamento inicial de 2,5 milhões de euros (R$ 7,4 milhões)
previstos inicialmente. A quantia cresceu em boa parte por conta dos extras,
como uma banheira de 15 mil euros (R$44,4 mil); uma mesa de reuniões de 25 mil
euros (R$ 74 mil); e uma capela particular de 2,9 milhões de euros (R$ 8,5
milhões).
(Wolfgang
Rattay/ REUTERS Publicado em
23/10/13)
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