A
responsabilidade de Israel
Oded
Grajew*
A
Faixa de Gaza é uma minúscula parte do território da Palestina nas margens do
Mar Mediterrâneo, separadas geograficamente por território
israelense
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Nos
primeiros anos do Estado de Israel (criado em 1948), os kibutzim - cooperativas
onde ninguém acumula bens pessoais e todos compartilham da mesma forma os
deveres e os benefícios da comunidade e tudo é decidido coletivamente — foram
a base da atividade econômica nos territórios do novo país.
Lembro-me
que a vida era difícil, mas havia um enorme espírito de solidariedade entre as
pessoas e as famílias. Meus pais dividiam um pequeno apartamento (onde nasci)
com casal de amigos e sempre me falaram que foram os anos mais felizes de suas
vidas. Foi uma infância muito feliz para mim também. Hoje Israel tem uma
economia capitalista que gerou muita riqueza (o pais tem uma das maiores rendas
per capita do mundo), mas, ao mesmo tempo muita desigualdade. A competição
passou a ser a cultura dominante e os poucos kibutzim que sobraram são compostos
basicamente por pessoas que escolheram um modo de vida mais solidário e menos
materialista.
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Um
dos meus maiores sonhos é presenciar a paz entre Israel, os palestinos e os
países árabes. Infelizmente o novo conflito, de trágicas consequências humanas,
torna esse sonho ainda distante. De novo, cada lado joga a culpa no outro.
Todos são responsáveis, mas considero que a responsabilidade de Israel é
maior, não por querer questionar as inúmeras justificativas que usa para
defender suas ações, mas pelo fato de ser o mais forte.
Israel
é de longe o país mais forte militarmente e economicamente da região e tem como
aliado incondicional os Estados Unidos, a maior potência mundial. O mais forte,
em qualquer circunstância, deveria ter maior responsabilidade.
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A
contrapartida do poder é a responsabilidade. É assim com os adultos que
deveriam ter muita responsabilidade com as crianças (suas e dos outros), os
ricos em relação às pessoas mais pobres e carentes, a sociedade em relação aos
idosos, os países prósperos e fortes em relação aos mais vulneráveis, os
políticos com seu povo.
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É
dessa forma que se pratica a solidariedade, a justiça e os mandamentos do
judaísmo, cristianismo e islamismo.
O
mais forte deveria ser exemplar, servir de referência e ser o mais solidário,
ousado e generoso. O mais forte, em nenhuma circunstância, deveria usar a sua
força para agredir e destruir o mais fraco, mesmo quando agredido. Não quero
entrar na discussão interminável e inútil de quem tem mais razão. A que tem
servido a lógica do olho por olho, reagir à violência com mais violência?
Apenas para alimentar o ódio, gerar matanças e inviabilizar a
paz.
Israel,
o país mais poderoso da região, poderia recuperar os ideais e o espírito de
solidariedade e generosidade de seus primeiros anos.
Assim
teria a grandeza de quebrar o inútil ciclo da violência e não usar toda a sua
força e seu poder para matar e destruir, mas para se empenhar tenazmente, para
perseguir até obter a paz na região.
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ODED
GRAJEW, 70, é coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo, presidente emérito do
Instituto Ethos e idealizador do Fórum Social Mundial. Foi presidente da
Fundação Abrinq e assessor especial da Presidência da República (governo
Lula)
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