O
exercício da ternura
Deonira L. Viganó La
Rosa
Terapeuta de Casal e de
Família. Mestre em Psicologia.
O
papa Francisco muito nos sensibilizou quando entrelaçou os braços, como se
ninasse alguém, e pediu a presbíteros e bispos que repetissem este gesto,
tomando “no colo” as pessoas que vão à Igreja. Disse mais: Saiam da sacristia ao
encontro das pessoas, lá onde elas estão, no dia a dia, principalmente nas
periferias onde estão os mais pobres e necessitados, e a todos deem proximidade,
ternura, escuta e carinho. As mães não se comunicam com os filhos através de
cartas, a mãe ama, beija, abraça. A Igreja por vezes gasta muito tempo
elaborando documentos, sobra pouco para o contado direto e carinhoso com as
pessoas.
O
desafio colocado por Francisco à Igreja chega à casa de cada um de nós.
Estamos
dedicando pouco tempo à convivência, ao cuidado, à ternura, ao toque, seja com
as crianças ou com os adultos. Corremos demais em busca de conforto e esquecemos
o quanto é confortável parar para dar e receber ternura, beijo, presença,
carinho.
A
ternura e o toque são intimamente ligados na nossa vida
afetiva
São nossos
sentidos que nos colocam em contato com o outro e nos permitem tocar e ser
tocados. Conhecemos muitas maneiras de tocar e ser tocados, graças a nossos
sentidos - ouvido, visão, olfato, gosto, tato. Podemos tocar o outro olhando,
conversando, abraçando ... Podemos ser tocados por uma música, um olhar, um
perfume, uma palavra, uma escuta silenciosa ...
A
ternura pertence à família do bom, da carícia, da gentileza, do sorriso, da
aproximação, da bondade, do amor, da confiança, dos anjos, do prazer, da doçura,
da paz, da cumplicidade, da amizade, da fraternidade. E isto ajuda a entender a
definição da família oposta: aquela do duro, do obscuro, da frieza, da rispidez,
da sombra, do picante, da amargura, dos demônios, do grito, da guerra, da
maldade ...
A
dificuldade em lidar com o toque e com a intimidade, os contatos abusivos ou as
relações frustradas são fatores que impedem certos sujeitos de criarem laços
carinhosos com as pessoas com quem convivem.
Resgatar a
capacidade de fazer-nos próximos dos outros, tanto na família como na Igreja,
requer libertação, exige prestar atenção e aguçar a sensibilidade. Requer
dedicar tempo à convivência, usar todos os sentidos para chegar ao outro, e
entender de uma vez por todas que ajudamos muito mais uma pessoa pela relação
afetiva direta do que com compêndios de doutrinas e
documentos.
Os adultos
também necessitam de ternura
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A
necessidade de ser amado é evidente no bebê, mas ela não é menos real no adulto:
ele também tem necessidade de sentir que tem um lugar no mundo, que é apreciado
pelo que ele é, independente daquilo que ele tem ou faz, seja marido, mulher,
filho, vizinho, fiel, principalmente desvalido e necessitado.
A
palavra tem um poder humanizante, mas não basta estar derramando palavras
genéricas, dirigidas sempre a multidões.
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O
que precisamos é de um olhar particular, de alguém que nos chame pelo nome, nos
pergunte como estamos, se precisamos de ajuda.
O
policial que acompanhava Francisco disse ter se impressionado com sua capacidade
de destacar uma pessoa na multidão, de perceber seu olhar e sair, quanto
possível, a seu encontro. Ele chorou com aquele menino que chorou em seu regaço.
Tempos atrás ele disse: O pastor tem de cheirar a sua
ovelha.
Quando um
filho quer contar ao pai alguma coisa que o inquieta e o pai lhe diz “te amo
muito, agora vai, que teu pai tem muitas coisas para fazer”, como se sente este
filho? E, quando a pessoa por muita sorte consegue se aproximar do padre e
percebe que ele não a escuta com interesse, antes tem um olhar vago de quem diz
“Devo fazer muitas outras coisas ainda”, como se sente esta pessoa? Como pode
sentir-se acariciada por Deus, se seu mediador a afasta com o olhar, quando não
com palavras?
A
educação do coração está muito negligenciada
É
preciso dar ao coração a mesma atenção que se dá à inteligência, senão mais. E é
preciso colocar como muito importante o exercício da ternura com os mais
próximos e com todos aqueles que ainda estão longe de nós porque os isolamos por
egoísmo, por preconceito ou preguiça. E a educação se faz a custa de
práxis, de prática.
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