coração dos
homens, como condição de realização de uma vocação de serviço à Igreja que não é
incompatível com a vocação para o casamento e a vida
familiar.
Os
problemas psicológicos tão frequentes entre sacerdotes que se mantêm fiéis a
essa disciplina imposta, e os de consciência dos muitos que não resistem a essa
regra disciplinar, apontam para o celibato opcional, assumido livre e
espontaneamente somente por aqueles que tenham uma vocação muito especial,
certamente rara e mutável ao longo do tempo. Essa abertura pode conviver
com alguma forma de vida religiosa monacal que possa ser inconciliável, no
momento, com a vivência matrimonial e familiar. Mesmo assim, a opção livre
feita pelo celibato não seria necessariamente definitiva em forma de voto
perpétuo, já que todas as pessoas vivem processos evolutivos, vão amadurecendo
em todas as dimensões pessoais e sociais, psíquicas, intelectuais e
afetivas. Fazem-se sempre novas opções e reformulam-se projetos de vida em
resposta aos sempre novos desafios e questionamentos que se
apresentam.
D. Pedro Casaldáliga, o bispo catalão que criou raízes nos sertões do
Araguaia, num texto inspirado, exalta a opção especial que fez pelo celibato,
mas espera poder "viver o tempo em que conviverá com sacerdotes casados, para
o bem da Igreja, e para a valorização do próprio
celibato".
Por essa norma até hoje mantida, resulta uma Igreja regida por
homens. Ora, a identidade fortemente masculina da Igreja lhe
suprime uma certa ternura e compreensão maternais que lhe fazem muita falta.
Essa falha não é exclusiva da Igreja. Todas as instituições humanas e estruturas
sociais dominadas pelos homens, excluídas as mulheres, se tornam autoritárias,
rabugentas e maçantes. Ao contrário, na medida em que mulheres ampliam seus
espaços em outras, elas de tornam mais humanas, mais sensíveis e cordiais. Isto
vale tanto para governos, parlamentos, sindicatos, partidos políticos e
empresas, como para congregações religiosas e cúrias diocesanas ou romanas.
Certamente o feminino está fazendo falta na Igreja. A elaboração de suas
doutrinas e normas não pode continuar prescindindo da ótica e
sensibilidade femininas. Falta alegria, delicadeza, ternura, afetividade e
emoção nas práticas da Igreja, nas suas celebrações e festas que se tornaram
inexpressivas, nada criativas, burocráticas e aborrecidas, quando poderiam e
deveriam ser exatamente o contrário.
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