jueves, 3 de noviembre de 2016

ADITAL, corresponsal Walter Altmann. El Obispo de ROMA, a QUINIENTOS AÑOS...

Diferentemente do que ocorreu nos últimos quatro centenários da Reforma Protestante, em que “o protestantismo se afirmava contra a Igreja Católica, e esta denunciava as ‘heresias’ da Reforma”, neste ano, em que se caminha para os 500 anos da Reforma, “pela primeira vez, a comemoração ocorre num clima de empenho pela unidade e em espírito ecumênico”, diz Walter Altmann à IHU On-Line.


O culto ecumênico que será realizado hoje, 31 de outubro de 2016, pelo bispo luterano palestino Munib Younan, o  pastor chileno Martin Junge, e o papa Francisco, na “antiga catedral medieval católica que passou a ser catedral luterana no século XVI”, em Lund, na Suécia, “é um gesto de grande significado simbólico, que poderá ser muito reforçado ainda com as palavras que estará proferindo”, afirma o pastor luterano.

Na avaliação de Altmann, o “sentido” desse ato que marca a abertura das comemorações do quinto centenário da Reforma, pode ser entendido em duas perspectivas. “Há um sentimento de gratidão pelo legado teológico de Lutero, afirmando a preponderância da graça de Deus, o acolhimento desta através da fé e o compromisso em favor da prática do amor ao próximo, da justiça e da paz. Mas há também um sentido autocrítico para com as limitações, falhas e deturpações que ocorreram em Lutero e, sobretudo, na história das igrejas após o período da Reforma. O papa Francisco tem dado demonstrações de que encara a história, também a da Igreja Católica, da mesma forma. Portanto, a Reforma deve ser comemorada em espírito de gratidão pelo legado evangélico, penitência pelos pecados cometidos e reafirmação do compromisso evangélico”, afirma.

Apesar dessa comemoração histórica, Altmann frisa que “provavelmente não haverá uma unanimidade” entre católicos e luteranos acerca do significado deste dia, mas mesmo assim “pode-se dizer já agora que prevalece entre as igrejas luteranas do mundo o sentimento de alegria com o fato de que as relações entre luteranismo e catolicismo tenham progredido tanto a ponto de essa comemoração conjunta se tornar possível”. E destaca: “Qualquer divisão da cristandade é lamentável e contrária à vontade expressa de Jesus Cristo (João 17:21). Aliás, teologicamente, confessamos todos haver apenas uma igreja una, santa, católica (universal) e apostólica, ainda que, por múltiplos fatores teológicos e ‘não-teológicos’, esteja institucionalmente dividida”.

Na entrevista a seguir, concedida por e-mail para a IHU On-Line, Walter Altmann comenta as principais contribuições da Reforma para a modernidade, as aproximações entre o catolicismo e o luteranismo nos últimos 50 anos e frisa que “em vez de uma uniformidade” entre católicos e luteranos, “devemos vislumbrar um futuro de uma diversidade reconciliada, reformada sempre de novo no que for preciso. A Reforma afirmou e o papa Francisco também tem afirmado que a Igreja necessita estar em permanente reforma”.

Walter Altmann é pastor luterano, graduado em Teologia pela Escola Superior de Teologia e doutor em Teologia Sistemática pela Universidade de Hamburgo. Atualmente é professor titular da Faculdades EST. Entre 1995 e 2001 exerceu o cargo de presidente do Conselho Latino Americano de Igrejas – CLAI, com sede em Quito. De 2003 a 2007 foi membro do Conselho da Federação Luterana Mundial – FLM, com sede em Genebra, na Suíça e, de 2002 a 2010, foi presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil. Entre suas obras, destaca-se Lutero e Libertação – Uma leitura de Lutero em perspectiva latino-americana.

Walter Altmann | Foto: www.luteranos.com.br
Confira a entrevista.

IHU On-Line - O que diferencia a comemoração da Reforma a ser realizada neste ano em relação a outros momentos históricos? Por que se optou por dar um tom ecumênico à celebração, incluindo a participação do papa Francisco?

Walter Altmann - Todas as celebrações centenárias anteriores ocorreram num espírito de confrontação com o “outro”. Isto é, o protestantismo se afirmava contra a Igreja Católica, e esta denunciava as “heresias” da Reforma. Agora, pela primeira vez, a comemoração ocorre num clima de empenho pela unidade e em espírito ecumênico. A Federação Luterana Mundial intencionalmente evita a palavra “jubileu”, bastante usada na Alemanha (afinal, 500 anos não é uma data qualquer!) ou mesmo “celebração”, mas, mais modestamente, “comemoração”. O sentido é: há um sentimento de gratidão pelo legado teológico de Lutero, afirmando a preponderância da graça de Deus, o acolhimento desta através da fé e o compromisso em favor da prática do amor ao próximo, da justiça e da paz. Mas há também um sentido autocrítico para com as limitações, falhas e deturpações que ocorreram em Lutero e, sobretudo, na história das igrejas após o período da Reforma. O papa Francisco tem dado demonstrações de que encara a história, também a da Igreja Católica, da mesma forma. Portanto, a Reforma deve ser comemorada em espírito de gratidão pelo legado evangélico, penitência pelos pecados cometidos e reafirmação do compromisso evangélico.

IHU On-Line - Qual é o significado da participação do papa Francisco na abertura das comemorações do quinto centenário da Reforma Protestante, que inicia neste dia 31-10-2016, em Lund, na Suécia? Que leitura o senhor faz dessa participação?

Walter Altmann - O papa Francisco que já como arcebispo de Buenos Aires deu claras demonstrações de seu compromisso ecumênico, também como “bispo de Roma”, como gosta de ser intitulado, tem recebido lideranças luteranas (e de outras confissões cristãs e religiosas), no Vaticano. Agora, no início dos 500 anos da Reforma, ele vai a “território” luterano e co-oficiará com o Presidente da Federação Luterana Mundial – FLM, o bispo luterano palestino Munib Younan (e com o Secretário Geral da FLM, o pastor chileno Martin Junge) o culto comemorativo, e isso numa antiga catedral medieval católica que passou a ser catedral luterana no século XVI, quando a totalidade dos bispos suecos e todo o povo, a começar pelo rei, aderiram à Reforma. É um gesto de grande significado simbólico, que poderá ser muito reforçado ainda com as palavras que estará proferindo. Deverá ocorrer também a assinatura de uma declaração conjunta pelo Papa Francisco e pelo Bispo luterano Younan.

IHU On-Line - Como a participação do papa no encontro está repercutindo entre os luteranos?

Walter Altmann - Isso será sentido mais após o evento comemorativo do que antes, também em face do que concretamente haverá de ser dito e feito na ocasião. Provavelmente não haverá uma unanimidade. Haverá quem o verá de forma crítica, talvez recordando, de um lado, que há ainda diferenças significativas entre as igrejas e, de outro, que a Reforma luterana não deveria ser comemorada neste momento “apenas” com a Igreja Católica, já que há muitas afinidades teológicas e eclesiais com outras igrejas oriundas da Reforma. Mas pode-se dizer já agora que prevalece entre as igrejas luteranas do mundo o sentimento de alegria com o fato de que as relações entre luteranismo e catolicismo tenham progredido tanto a ponto de essa comemoração conjunta se tornar possível. Está prevista também a assinatura de um convênio de cooperação entre o Departamento de Serviço ao Mundo da FLM, muito engajado no apoio a refugiados, e a Caritas Internacional da Igreja Católica, o que reforçará o significado do evento. Acrescento, de outra parte, que a FLM estará realizando sua próxima assembleia geral em maio próximo, na Namíbia, um país do Sul do planeta, em que a maioria da população é luterana. Nessa ocasião haverá também um culto comemorativo conjunto da FLM com todas as confissões cristãs parceiras da FLM.

IHU On-Line - Hoje, como está a relação entre católicos e luteranos em geral? Quais foram pontos de diálogo ecumênico entre ambos ao longo dos últimos 50 anos? Como as comunidades reagem a esse processo de diálogo e aproximação?

Walter Altmann - Em nível local há numerosas experiências de cooperação, embora em muitos lugares isso tenha mais característica de uma convivência pacífica do que propriamente de estreita cooperação. Em nível nacional temos tido de tempos em tempos a organização ecumênica da Campanha da Fraternidade e, anualmente, a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, muito difundida em comunidades locais. Tem havido cooperação em pastorais específicas, como a indígena, a da terra e outras. Em nível teológico-eclesial encontra-se regularmente desde 1974 a Comissão Bilateral Católico-Luterana da CNBB e da IECLB. Processos análogos podem ser registrados em muitos outros lugares do mundo. De um modo geral, há hoje, em lugar da confrontação e condenação mútua do passado, uma relação de respeito, de reconhecimento mútuo do ser cristão e, de maneira pontual, de cooperação.

IHU On-Line - Como o senhor vê a celebração da Reforma 500 anos depois, num mundo que é bastante secularizado e no qual as pessoas, inclusive, vivem sem necessariamente adotar ou seguir os valores proclamados pela Reforma?  Que contribuições o protestantismo pode dar à sociedade secularizada?

Walter Altmann - Bem, a meu ver o que caracteriza o cenário religioso hoje não é simplesmente secularização, porque há também um forte recrudescimento das religiões. Assim, o cenário hoje é caracterizado precisamente pela concomitância de secularismo e forte impacto religioso. Nesse sentido, o próprio secularismo poderia ser entendido como uma forma secular do religioso e muitos de seus adeptos assumem uma postura por assim dizer “missionária” de suas convicções. Isso é, claro, radicalmente diferente do cenário religioso na época da Reforma, em que se deu um conflito religioso, mas à base de um entendimento comum de se estar num ordenamento de cristandade. Daí porque a divergência acabou confluindo para a ruptura e até em trágicos conflitos bélicos. Mas, sem dúvida, a Reforma, ao defender que o âmbito secular não podia ser tutelado pelo espiritual, contribuiu para a emergência paulatina do Estado moderno e laico. Contudo, a Reforma também confrontou os poderes políticos com o que lhe parecia ser o bem comum e advogando, em especial, em favor do cuidado social com todos os cidadãos, em especial os mais vulneráveis. Isso continua altamente relevante.

IHU On-Line – A ênfase no aspecto pessoal da fé não serviria também a um processo de relativização que culmina na enorme explosão numérica de igrejas? Como equalizar essa questão de modo que as pessoas tenham uma fé pessoal, mas que não gere esse efeito e que não se tenha, de outro lado, uma fé e uma espiritualidade esvaziadas?

Walter Altmann - Fé pessoal não significa uma fé arbitrária, cada qual a seu gosto, o que de fato daria no resultado que apontas. Isso seria um desvirtuamento do que Lutero propunha: uma fé pessoalmente assumida em suas implicações e consequências, por exemplo, o compromisso de amor ao próximo. Acrescentaria à valorização da fé pessoal e da consciência de cada qual, contudo vinculadas à Palavra de Deus.

IHU On-Line - Quais são as principais contribuições da Reforma para a modernidade?

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